Escola Anna Nery Revista de Enfermagem
https://www.eanjournal.org/article/doi/10.1590/2177-9465-EAN-2024-0109en
Escola Anna Nery Revista de Enfermagem
Pesquisa

Spirit of leprosy in times of Hansen’s disease: knowledge, memories and social representations

Espíritu de lepra en tiempos de enfermedad de Hansen: conocimientos, memorias y representaciones sociales

Espírito da lepra em tempos de hanseníase: conhecimentos, memórias e representações sociais 

Camila Carvalho do Vale; Widson Davi Vaz de Matos; Márcia de Assunção Ferreira; Iaci Proença Palmeira

Downloads: 0
Views: 123

Abstract

Objective: to analyze the social representations of Hansen’s disease from the perspective of those who experience the disease.

Methods: a qualitative and descriptive study, based on the Theory of Social Representations. A total of 41 people with Hansen’s disease from a reference unit in Pará participated. Information was produced through in-depth individual and semi-structured interviews. The corpus was submitted to the IraMuTeQ software.

Results: the software divided the texts of the interviews into 701 text segments with a utilization of 81.60%. Class 1 contains elements related to the symbolic construction of leprosy, anchored and objectified in the historical memory of ancient leprosy, triggering memories that affect body aesthetics, such as mutilation and deformities. The disease imposed as divine punishment is rescued, and aspects of prejudice and social stigma emerge.

Conclusion and implications for practice: leprosy reminiscences are still strong and influence patients’ treatment, insertion and social life. The dissemination of information about Hansen’s disease, the importance of adherence to treatment and its potential for cure must be intensified. This information should not be restricted to discursive content, but rather to images and actions, with activities that mobilize emotions and enable the construction of new representations that distance the image of leprosy from people’s daily lives.

Keywords

Social Stigma; Leprosy; Memory; Social Representations; Health

Resumen

Objetivo: analizar las representaciones sociales de la enfermedad de Hansen desde la perspectiva de quienes viven la enfermedad.

Métodos: estudio cualitativo y descriptivo, basado en la Teoría de las Representaciones Sociales. Participaron 41 personas con enfermedad de Hansen de una unidad de referencia de Pará. Se llevaron a cabo entrevistas en profundidad individuales y semiestructuradas. Los datos del perfil se trataron con recursos estadísticos y los datos textuales fueron enviados al software IraMuTeQ.

Resultados: el software dividió los textos de la entrevista en 701 segmentos de texto con una tasa de precisión del 81,60%. La clase lexical 1 contiene elementos referentes a la construcción simbólica de la enfermedad de Hansen, anclados y objetivados en las memorias de la enfermedad de Hansen de la antigüedad, desencadenando imágenes que afectan la estética corporal, como mutilaciones y deformidades. La enfermedad es vista como un castigo divino y surgen prejuicios y estigmas sociales.

Conclusión e implicaciones para la práctica: los recuerdos de la lepra son fuertes e influyen en la inserción y la vida social de los pacientes. Se debe intensificar la difusión de información sobre la enfermedad de Hansen, la importancia de la adherencia al tratamiento y su potencial de curación. Esta información no debe limitarse a contenidos discursivos, sino a imágenes y acciones, con actividades que movilicen afectos y permitan la construcción de nuevas representaciones que eliminen la imagen de la lepra de la vida cotidiana de las personas.

Palabras clave

Estigma Social; Lepra; Memoria; Representaciones Sociales; Salud

Resumo

Objetivo: analisar as representações sociais da hanseníase na ótica de quem vivencia a doença.

Métodos: estudo qualitativo e descritivo, fundamentado na Teoria das Representações Sociais. Participaram 41 pessoas com hanseníase de uma unidade de referência do Pará. Realizou-se entrevista em profundidade individual e semiestruturada. Os dados do perfil foram tratados com recursos da estatística, e os textuais foram submetidos ao software IraMuTeQ.

Resultados: o software dividiu os textos das entrevistas em 701 segmentos, com aproveitamento de 81,60%. A classe lexical 1 contém elementos referentes à construção simbólica da hanseníase ancorados e objetivados nas memórias da antiga lepra, acionando imagens que afetam a estética corporal, como a mutilação e deformidades. Resgata-se a doença como castigo divino, emergindo o preconceito e estigma social.

Conclusão e implicações para a prática: as reminiscências da lepra são fortes e influenciam a inserção e o convívio social dos doentes. Há que se intensificar a difusão de informações sobre a hanseníase, importância da adesão ao tratamento e seu potencial de cura. Essas informações não devem se restringir aos conteúdos discursivos, mas imagéticos e de ação, com atividades que mobilizem afetos e possibilitem a construção de novas representações que afastem a imagem da lepra do cotidiano das pessoas.

Palavras-chave

Estigma Social; Hanseníase; Memória; Representações Socias; Saúde

Referências

1 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Boletim epidemiológico: hanseníase 2024 [Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2024 [citado 2024 out 21]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/especiais/2024/be_hansen-2024_19jan_final.pdf/view.

2 Kukkaro P, Vedithi SC, Blok DJ, van Brakel WH, Geluk A, Srikantam A et al. Target product profiles: leprosy diagnostics. Bull World Health Organ. 2024;102(4):288-95. http://doi.org/10.2471/BLT.23.290881. PMid:38562197.

3 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de Doenças Transmissíveis. Estratégia Nacional para o Enfrentamento à Hanseníase 2024-2030 [Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2024 [citado 2024 out 21]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/svsa/hanseniase/estrategia-nacional-para-enfrentamento-a-hanseniase-2024-2030/view.

4 Martoreli Jr JF. Aglomerados de risco para ocorrência de hanseníase e as incapacidades em menores de 15 anos em Cuiabá: um estudo geoespacial. Rev Bras Epidemiol. 2023;26(2):1-9. http://doi.org/10.1590/1980-549720230006.2.

5 Li X, Ma Y, Li G, Jin G, Xu L, Li Y et al. Hanseníase: tratamento, prevenção, resposta imunológica e função genética. Imunol Frontal. 2024;15(3):1-18. http://doi.org/10.3389/fimmu.2024.1298749

6 Finotti RFC, Andrade ACS, Souza DPO. Transtornos mentais comuns e fatores associados entre pessoas com hanseníase: análise transversal em Cuiabá, Brasil, 2018. Epidemiol Serv Saude. 2020;29(4):e2019279. http://doi.org/10.5123/S1679-49742020000400006. PMid:32756833.

7 Goffman E. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva; 2020.

8 Souza GC, Oliveira PS, Araujo PN, Santos FL, Silva JP, Santos KS et al. Experiências de estigma social de pessoas que vivem com hanseníase no Brasil: silenciamentos, segredos e exclusão. Saúde Interna. 2024;16(1):60-7. http://doi.org/10.1093/inthealth/ihae005. PMid:38547345.

9 Leano HADM, Araújo KMDFA, Bueno IDC, Niitsuma ENA, Lana FCF. Fatores socioeconômicos relacionados à hanseníase: revisão integrativa da literatura. Rev Bras Enferm. 2019;72:1405-15. http://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0651.

10 Passos ÁLV, de Araújo LF, Belo RP. Hanseníase e envelhecimento: representações sociais dos moradores de um hospital-colônia. Rev Pesq Prát Psicossoc. 2021 [citado 2024 out 21];16(3):1-15. Disponível em: https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-89082021000300005&lng=pt&nrm=iso.

11 Jedlowski P. Memory and sociology: Themes and issues. Time Soc. 2001;10(1):29-44. http://doi.org/10.1177/0961463X01010001002.

12 Halbwachs M. A memória coletiva. São Paulo: Centauro; 2006.

13 Moscovici S. A psicanálise, sua imagem e seu público. Petrópolis, RJ: Vozes; 2012.

14 Porto CL, Marques MCC. Representações sócio-históricas de uma doença: um estudo sobre cartazes de campanhas para o combate à hanseníase na segunda metade do século XX. Hist Cienc Saude Manguinhos. 2023;30(2):e2023066. http://doi.org/10.1590/s0104-59702023000100066en. PMid:38018637.

15 Jodelet D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: Jodelet D, organizador. As representações sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ; 2001. p. 17-44.

16 Souza VRS, Marziale MHP, Silva GTR, Nascimento PL. Translation and validation into Brazilian Portuguese and assessment of the COREQ checklist. Acta Paul Enferm. 2021;34(2). http://doi.org/10.37689/acta-ape/2021AO02631.

17 Camargo BV, Justo AM. Tutorial para uso do software IRaMuTeQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires)[Internet]. Florianópolis: Laboratório de Psicologia Social da Comunicação e Cognição; 2018 [citado 2024 out 21]. Disponível em: http://www.iramuteq.org/documentation/fichiers/tutoriel-en-portugais.

18 Jesus ILR, Montagner MI, Montagner MA. Hanseníase, vulnerabilidades e estigma: revisão integrativa e metanálise das falas encontradas nas pesquisas. Unaí: Coleta Científica; 2021 [citado 2024 out 21]. Disponível em: https://portalcoleta.com.br/index.php/editora/article/view/86.

19 Neiva RJ, Grisotti M. Representações do estigma da hanseníase nas mulheres do Vale do Jequitinhonha-MG. Physis. 2019;29(1):e290109. http://doi.org/10.1590/s0103-73312019290109.

20 Costa A. Sangue e fígado: a persistência das imagens simbólicas sobre a lepra a partir do mito do papa-figado. Rev Electron Comun Inf Inov Saude. 2020;14(2):502-14. http://doi.org/10.29397/reciis.v14i2.1896.

21 Souza GC, Oliveira PS, Araujo PN, Santos FL, Silva JP, Santos KS et al. Experiências de estigma social de pessoas que vivem com hanseníase no Brasil: silenciamentos, segredos e exclusão. Int Health. 2024;16(1):60-7. http://doi.org/10.1093/inthealth/ihae005. PMid:38547345.

22 Nascimento RD, Sousa IMC, Melo CPL, Santos DCM. Criação e desenvolvimento de grupos de apoio para o autocuidado em hanseníase em um estado do Nordeste brasileiro. Physis. 2024 [citado 2024 out 21];34(22):1-22. Disponível em: https://www.scielo.br/j/physis/a/zQRKDtW85vbsdBvWFTPFFKK

23 Pegaiani KNA, Pinto NS, Batiston AP, Santos MLM, Cabral KV, Belloc MM et al. Conferências de saúde e a hanseníase: ditos e silenciamentos sobre a doença negligenciada e seus estigmas. Saude Soc. 2023;32(3):e210889pt. http://doi.org/10.1590/s0104-12902023210889pt.

24 Stangl AL, Earnshaw VA, Logie CH, van Brakel W, Simbayi LC, Barré I et al. The Health Stigma and Discrimination Framework: a global, crosscutting framework to inform research, intervention development, and policy on health-related stigmas. BMC Med. 2019;17(1):31. http://doi.org/10.1186/s12916-019-1271-3. PMid:30764826.

25 Jesus ILR, Montagner MI, Montagner MA, Alves SMC, Delduque MC. Hanseníase e vulnerabilidade: uma revisão de escopo. Ciênc. Cien Saude Colet. 2023;28(1):143-54. http://doi.org/10.1590/1413-81232023281.09722022.

26 Jodelet D. Loucuras e representações sociais. Petrópolis: Vozes; 2005.

27 Noordende AT, Aycheh MW, Schippers AP. Uma exploração da qualidade de vida familiar em pessoas com deficiências relacionadas com hanseníase, filariose linfática e podoconiose e seus familiares na Etiópia. Trans R Soc Trop Med Hyg. 2020;114(12):1003-12. http://doi.org/10.1093/trstmh/traa090. PMid:33169139.

28 Deps P, Delboni L, Oliveira TIA, Collin SM, Andrade MA, Maciel ELN. Steps towards eliminating Hansen’s disease stigma. Int Health. 2023;15(Suppl. 3):iii7-9. http://doi.org/10.1093/inthealth/ihad050. PMid:38118154.

29 Thapa DK, Dahal HR, Chaulagain DR, Karki A, Sharma N, Baral B et al. Stigma, depression and quality of life among people affected by neglected tropical diseases in Nepal. Int Health. 2023;20(15, Suppl3):79-86. http://doi.org/10.1093/inthealth/ihad099.

30 Mangeard-Lourme J, de Arquer GR, Parasa J, Singh RK, Satle N, Mamhidi R. Depressão e ansiedade em pessoas afetadas por hanseníase e filariose linfática: um estudo transversal em quatro estados da Índia. Lepro Ver. 2020;91(4):367-82. http://doi.org/10.47276/lr.91.4.367.

31 Lavantezi M, Shimizu HE, Gaffa V. Princípio da não discriminação e não estigmatização: reflexões sobre hanseníase. Rev Bioet. 2020;28(1):17-23. http://doi.org/10.1590/1983-80422020281362.

32 Barcelos RMFM, Sousa GS, Almeida MV, Palacio FGL, Gaíva MAM, Ferreira SMB. Qualidade de vida de pacientes com hanseníase: uma revisão de escopo. Rev Esc Enferm USP. 2021;55:e20200357. http://doi.org/10.1590/1980-220x-reeusp-2020-0357. PMid:34495209.
 


Submetido em:
31/10/2024

Aceito em:
26/12/2024

67d05982a953954d9d745669 ean Articles

Esc. Anna Nery

Share this page
Page Sections